Para que os pensamentos não se percam no éter, e o fumo do pensamento não ande por aí espalhado.

07 junho 2010

Salto Tandem

Após uma primeira tentativa, sem sucesso devido a problemas já explicados aqui, finalmente chegou o dia para um salto tandem. Desta vez, ficou marcado para Évora, tal como da primeira vez, mas às 11h. Por uma razão qualquer, uma prova de atletismo a acontecer justamente hoje, aqui nas imediações da minha casa, atrasou a boleia de cá chegar, pelo que após todos os atrasos, e mesmo com o pé pesado da nossa condutora, não conseguimos chegar a horas ao local, no aeródromo de Évora.

Enfim chegados, é necessário preencher os formulários com os dados pessoais e os contactos, nossos e de um potencial contacto de emergência (mas eles não têm pára-quedas?). E também o doloroso pagamento, nada barato, mas que se revela uma pechincha dada a experiência adrenalínica envolvida. E como requisitamos que seja fotografado e filmado, ainda fica um pouco mais caro. Mas sabe-se lá quando voltarei a fazê-lo.

Saltao Tandem 039 Enquanto vamos espreitando os pequenos aviões onde seremos transportados, e os saltos dos outros participantes, vamos pensando se realmente estamos a fazer bem. Durante o briefing, ficamos logo mais sossegados, pois as mochilas têm dois pára-quedas, e um altímetro automático que em caso de emergência dispara sozinho o respectivo pára-quedas. De acordo com o instrutor, é virtualmente impossível ele não abrir. Pois, até finjo que acredito, mas o que interessa é que estou lá para curtir e não para pensar nestas coisas. E o instrutor até vai agarrado a nós para que não aconteça nada.

Temos de vestir um fato de macaco para o efeito. Até é bom, já que a aterragem tem de ser feita de rabo, portanto, massajando os glúteos na terra coberta de feno. E treinamos igualmente uns movimentos que lembram a Macarena. Saltar arqueados de barriga para a frente, com os braços cruzados no pescoço, abrir os braços depois do salto, sempre com as calcanhares levantados para o rabo, e cruzar os braços de novo na altura de abrir o pára-quedas. Apenas na aterragem é preciso mais concentração, para não haver lesões, e por isso treina-se o levantar das pernas com a devida supervisão.

Saltao Tandem 070

Depois da vestimenta, a parte dos acessórios. É necessário usar umas cintas cheias de correias e grampos, que nos vão manter bem agarrados ao instrutor (não comecem com ideias), que durante a duração do salto será sem dúvida o nosso melhor amigo. As correias são tão apertadas nas virilhas e nos ombros que alem de não nos conseguirmos inclinar para a frente, quando tentamos andar, parecemos um astronauta, com as pernas arqueadas.

Saltao Tandem 080

Lá entramos para o avião, apertadinhos, como diz o instrutor, o objectivo é estarmos desconfortáveis para termos mesmo vontade de saltar, não vamos mudar de ideias entretanto. E a curta viagem de avião é muito gira, pelos céus da lindíssima cidade de Évora. Antes do salto, mais uns apertos nas correias, colocar os óculos e aproximar da saída. E na altura de nos prepararmos para saltar, o que vem à cabeça é algo do género:

Bem, já que aqui estou agora não é altura para desistir. Deixa lá ver, sentar na porta, dobrar as pernas para debaixo do avião, cruzar os braços, arquear o corpo….olha, estou a cair…o chão está à minha frente….ahhhhhhhhhhh!

E no meio de umas piruetas para animar a coisa, uns acertos nas pernas para não andarmos desequilibrados, as caretas ridículas para a câmara, e uma sensação de adrenalina que é realmente do tamanho da altura de onde saltamos (que são 18700 pés, aproximadamente 4200 metros). A queda livre dura apenas 50 segundos, numa velocidade máxima de 225 km/h, mas que parece uma eternidade a partir de certo ponto.

Saltao Tandem 098

Quando o pára-quedas abre, um esticão semelhante a uma travagem brusca, seguido de algum aliviar das correias para andarmos mais soltos. Após as estabilização e um treino de aterragem, passamos para o controlo da asa, devidamente ajudados. Puxa-se a mão esquerda para virar à esquerda. Puxa-se a mão direita para virar à direita. Se puxarmos com muita força, vira mais rápido, o que dá azos a mais alguns rodopios. Perto do chão, hora de levantar as pernas e aterrar de rabo no feno. Parece pior do que realmente é. E na altura de levantar do chão, a sensação de que queremos fazer de novo. Saltao Tandem 101Hora de voltar para o hangar, tirar o equipamento e os fatos, últimas fotos, despedidas e com algum sentimento de nostalgia, a vontade enorme de querer repetir tal façanha. No final, ficam os ombros doridos do aperto das correias, e os ouvidos meio entupidos devido à altitude. Além de uma secura na boca, que me leva a despejar todos os líquidos que encontro em casa. Há quem diga que é do pânico, eu prefiro acreditar que foi da adrenalina :)

Saltao Tandem 113

4 comentários:

  1. Grande maluco!!!
    Eis uma coisa que tenho pena de não ter feito a uns anos atrás.. agora acho que já não tenho coragem!
    Bjkas

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  2. Belacena!!! :D

    Um beijinho e boa sorte com o blog! ;)

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  3. Ora pois o meu irmão e cunhada ofereceram-me uma coisa dessas, mas... eu ainda não tive coragem! Sempre disse que gostava de experimentar a saltar de pára-quedas, mas agora que é possível... tenho medo de morrer pelo caminho! (de susto)
    Parabéns pela coragem, mas... eu não sei bem como vou arranjar coragem para o fazer!

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  4. Fui saltar ontem a Évora também. ainda tenho os ouvidos entupidos e dores nos ombros. foi engraçado mas aquilo mete medo :)

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