Para que os pensamentos não se percam no éter, e o fumo do pensamento não ande por aí espalhado.

22 agosto 2012

As cláusulas de um contrato de trabalho

Continuando na senda da procura de trabalho, de vez em quando sou confrontado com algumas propostas. E em agarrado a essas propostas vem geralmente um contrato de trabalho, ou pelo menos o esqueleto do que será o contrato de trabalho.

Mais cláusula, menos cláusula, todos são muito idênticos, pois as empresas gostam muito de se proteger contra sei lá o quê, talvez alguns trabalhadores demasiado poderosos que possam querer ganhar dinheiro da empresa em tribunais em vez de o ganharem a trabalhar para a empresa.

E daí resolvi fazer um resumo das principais cláusulas que geralmente figuram nos contratos de trabalho. Não discuto a legalidade das mesmas, já que não sou jurista nem tenho conhecimentos para isso.

As apresentações

Aqui é onde se apresentam as entidades e/ou pessoas que vão assinar o contrato. Nade de extraordinário, portanto

Localização do posto de trabalho no planeta Terra

Descreve-se a morada onde se poderá ou não vir a exercer o trabalho, consoante a empresa ache que o mesmo é ao virar da esquina ou ao virar do hemisfério norte, podendo alternar entre os dois sem que o empregado bufe sobre o assunto

Escravatura

Define-se o tempo de trabalho que a empresa apresenta dentro da lai, mas com todas as condicionantes que podem levar a que esse tempo se estenda por muitas e largas horas durante toda a semana e feriados, sendo que o trabalhador terá que cumprir as horas que a empresa quiser sem se queixar, que estamos aqui é para trabalhar.

Precariedade

A esmola a que chamam de salário que o trabalhador tem direito por cumprir com as libertinas horas de trabalho definidas anteriormente pela empresa.

Férias

O que é isto? A emprese é que marca férias e mais nada. O trabalhador aceita e não bufa.

Complementos legais

A empresa tem de dizer sob qual artigo está a redigir o contrato. Como se isso importasse para o que lá está escrito.

Escapatória

Sempre a favor da empresa, mas define o período de sofrimento mínimo que o trabalhador tem que ter antes de se poder ir embora.

Anti-espião

Não vá o trabalhador ser um empregado da empresa da concorrência, ou ainda pior, dos serviços secretos de um país qualquer obscuro, tudo o que acontecer no trabalho, fica no trabalho. E se assim não for, quem é que se lixa? O trabalhador, claro está, que terá de penhorar a casa, o carro e os anéis de ouro para poder pagar a indemnização à empresa, mesmo que o “segredo” revelado seja a localização da casa de banho no primeiro andar.

És nosso

A empresa gosta muito do trabalhador, e por isso não o quer partilhar com ninguém. Ninguém mesmo, nem mesmo com a família, mas isso já seria ilegal e por isso esta parte já está na cláusula da escravatura. E ai do trabalhador se tiver que trabalhar noutro lado para poder pagar a renda de casa. Então mas a empresa não lhe paga o suficiente?

Asfixia criativa

Tudo o que o trabalhador criar no local e tempo de trabalho, nem que seja uma escultura de papel mascado, ou uma pilha de copos de água vazios, é propriedade da empresa. E se tentar vender a escultura, todo o rendimento tem de ser dado à empresa, e em seguida hipotecar a casa e o resto tal como na cláusula anti-espião.

E existem mais algumas que não saem do normal e que não vou estar a descrever. O meu conselho? Leiam sempre com atenção os contratos de trabalho. Não vão vocês inventar a cura para o cancro numa pausa de sono a seguir ao almoço e depois quem recebe os lucros é a empresa…

09 agosto 2012

Centros de Competências em Portugal

Este post revela o meu pequeno lado comunista, pelo que não se aconselha aos leitores mais sensíveis.

Parece que são boas notícias para Portugal. Os sucessivos centros de competências de empresas ligadas às tecnologias continuam a querer deslocar-se para Portugal. O último foi o da Vodafone, que ganhou o concurso para que o centro de monitorização de rede da Península Ibérica ficasse por cá. E pensam transferir mais competências dos outros países europeus também para cá. Boa notícia porque gera empregos, mas a que custo?

Na minha demandada por empregos nos últimos tempos, tenho-me apercebido que não há falta de oportunidades no mundo das tecnologias. O que há, sim, é um aproveitamento das empresas, com a desculpa da crise e da troika e de não sei mais o quê, para baixar consideravelmente os ordenados. Já recebi mesmo proposta que considero completamente ridículas, indecentes e absurdas. Propostas que como é óbvio, recusei, porque me recuso pagar para trabalhar.

Por isso, as sucessivas transferências de centros de competências para o nosso país, ninguém me convence que não são relacionadas com o custo do trabalho estar muito menor agora que há alguns anos atrás. Somos de facto muito competentes no que fazemos, e por isso tecnicamente somos bons. Mas se não fossemos baratos comparativamente ao resto da Europa, isto nunca aconteceria. Tal como se prevê que daqui a alguns anos quando a situação se inverter (espero eu), esses mesmo centros se desloquem para um outro país qualquer com mão de obra mais barata. Porque economicamente, é assim que funciona e é como sempre funcionou.

08 agosto 2012

E já estamos na tabela…

…dos medalhados olímpicos de Londres 2012!

Depois da decepção do judo português, onde estavam depositadas grandes esperanças para as medalhas (não estou a por em causa o profissionalismo dos atletas, mas é verdade que não correu nada bem), na maior delegação portuguesa de sempre, com mais de 70 atletas, onde além do judo não figuram grandes nomes como Nélson Évora, Vanessa Fernandes ou Naide Gomes, as esperanças eram poucas.

E no entanto, os nossos atletas têm-se superado e elevado bem alto o nome de Portugal. É o caso da grande prestação no ténis de mesa masculino, onde os nossos jovens deram uma grande resposta aos super-favoritos sul-coreanos. Ou no trampolim, onde Ana Rente teve uma prestação fabulosa com um mais que honroso 11º lugar. Numa competição onde os orientais dominam, foi muito bom. Ou mesmo a grande corrida dos 3000m obstáculos, onde a secretária da Câmara Municipal de Ovar, Clarisse Cruz, caiu nas qualificações, levantou-se e chegou à final onde ficou num prestigioso 11º lugar.

E as surpresas continuam. Já é esperado que na vela os nossos rapazes e raparigas façam coisa interessantes, mesmo que não tragam medalhas. E têm feito. É esperado e sabido que na natação não temos hipótese. Mas as grandes surpresas este ano têm sido o hipismo, onde os nossos cavaleiros e cavalos têm demostrado o mais puro sangue lusitano, com duas presenças na final, e a canoagem, onde em várias categorias estamos nas finais. Talvez não seja o suficiente para ganhar mais medalhas do que a que foi ganha já hoje, mas os tempos estão a mudar, e isto pode ser um bom prenúncio.

Parabéns aos nossos atletas!

01 agosto 2012

Portugal Olímpico

Quando olhamos para a tabela dos medalhados, os países do costume estão sempre lá em cima. Uma luta acesa entre os Estados Unidos e a China, seguidos já de longe por outros países que tipicamente conseguem muitas medalhas, entre os quais o organizador, a Grã-Bretanha. E esforçam-nos por percorrer todo o ranking de medalhas para procurar pelo nome de Portugal, o que até é normal que nem apareça, para desespero dos muitos portugueses que anseiam que este pequeno país consiga alguma notoriedade mundial.

Pequeno país também no desporto, uma vez que não temos a mesma filosofia desportiva que os grandes países medalhados. É normal nos Estados Unidos receberem-se bolsas de estudo universitárias por destaque desportivo, o que só por si é um grande incentivo a que se pratique. Para além do sem número de infraestruturas que existem em cada escola secundária e em cada universidade, incentivando o desporto, seja eles o mais popular basebol ou o mais ridículo Lacrosse. No caso da China, os atletas são moldados desde pequenos para praticarem aquele desporto específico. É natural que quando participam em provas internacionais, sejam muito competentes.

Em Portugal, nos últimos anos tem-se assistido a um crescendo do número de infraestruturas desportivas, muitas delas sabe-se lá de onde vem o dinheiro. É um crescimento que não é sustentado, com municípios que têm pouco mais que um milhar de habitantes a construírem piscinas olímpicas, para usufruto talvez do seu presidente da Câmara e da sua família.

Mas no essencial é a cultura desportiva que nos falta. Somos latinos, e como tal gostamos de relaxar ao sol, com o mínimo esforço possível. Correr para quê quando é muito mais agradável ir para a praia. Daí vem a história antiga das participações desportivas internacionais portuguesas, onde apenas éramos bons em três desportos: vela, porque o vento é que empurra; hipismo, porque o cavalo é que salta; e hóquei em patins, porque os outros não sabem jogar.

Felizmente nos últimos anos a coisa tem mudado e temos-nos destacados noutros desportos. Nos olímpicos, talvez por causa da pressão ou outros factores, é que nos falta sempre qualquer coisa.