Para que os pensamentos não se percam no éter, e o fumo do pensamento não ande por aí espalhado.

31 julho 2013

Liberdade, mas com limites…

Para os mais esquecidos, e isto já não é do meu tempo, mas houve uma altura em Portugal em que para dizer o que se pensava tinha de ser às escondidas, bem longe dos olhares mais observadores e inquisidores, ou então simplesmente não dizer nada, para não haver problemas de qualquer espécie. Depois veio o 25 de Abril e foi uma maravilha, liberdade, incluindo a de expressão, para todos.

Até aos dias de hoje.

Parece que voltámos aos tempos inquisidores de há 40 anos. Se na altura, como em qualquer altura, era necessário medir muito bem o que se dizia, para não ser preso ou ostracizado pela polícia política, hoje, tem de se ter igualmente o mesmo cuidado para não ser publicamente linchado.

Em todas as épocas, e de todas as pessoas, há as opiniões interessantes, as simplesmente estúpidas, passando pelas descabidas e até por aquelas que, no seu devido contexto, devem simplesmente ser desprezadas, já que dar-lhes mais que isso é torná-las mais importantes que aquilo que são.

Mas o povo, pelo menos algum, anda melindrado. Curiosamente, aqueles que mais apregoam os valores de Abril, são precisamente aqueles que mais depressa tomam o lugar da frente no pelotão de linchamento.

Será que sou só eu que noto aqui uma certa ironia com uma ligeira dose de intolerância à mistura?

26 julho 2013

Um Papa irresponsável?

Não posso negar que gosto de ouvir o Papa Francisco. Gosto das suas palavras sábias (e pensadas). Gosto do seu visual mais terreno e menos divino. Gosto da sua atitude e da sua vontade de estar sempre junto dos fiéis. Mas há algo que me causa algum desconforto.

Apesar de querer ser sempre terreno, próximo, bem à maneira dos Jesuítas, o Papa Francisco não pode deixar de se lembrar que é o Papa. E sendo Papa, por mais que queira continuar a sua vida de forma normal, não será possível. Porque onde quer que vá, multidões o seguirão, não apenas para o ouvir, mas para estar bem próximo dele. E quando alguém muito famoso e importante vai a algum lugar muito povoada, como a rua principal de Copacabana, tem de estar preparado para isso.

Aparecer de surpresa num carro normal no meio do trânsito citadino e parado num cruzamento, faz com que multidões se aglomerem o mais próximo possível para obter um sorriso, uma foto, um toque ou uma palavra. E aglomerados de gente levam à desgraça de alguns, entre esmagamentos e pisadelas, que por pura sorte não aconteceu naquele cenário.

Quero que Francisco continue a ser terreno como é. Mas essencialmente quero que seja Papa.

02 julho 2013

A culpa foi do Excel

Ao fim de 741 dias, e para agrado de muitos (mesmo assim muito menos que eu imaginava, dada a quantidade de opiniões que tenho lido) eis que Vítor Gaspar se demite.

Sempre pensei que ele estava no Governo para dar a cara pelas coisas “más”, enquanto que os restantes ministros trabalhavam sem qualquer perturbação por parte da opinião pública, dos sedentos de poder e de votos partidos da oposição, e dos sanguinários media. Mas parece que a sua paciência chegou ao fim, ainda antes da nossa. A minha, no lugar dele, já teria esgotado há muito muito tempo.

Um bom exemplo foi a TSU, que toda a gente criticou quando foi proposta, mas que passados uns meses já se tinham arrependido. Pelo meio uma fórmula do Excel mal feita no resgate da Troika (malvada Microsoft, a querer enganar-nos!) acabou por ser o bode expiatório e o motivo de gozo de todos.

Paulo Portas acaba também ele por ser promovido, pois passa a nº2 do Governo. Nunca engoliu muito bem o facto de ser apenas nº3, e passava todo o tempo a dar uma cravo outra na ferradura, com birra de menino mimado, servindo-se de Vítor Gaspar como saco de pancada. Em quem vai bater agora, já que, dizem as regras, que não se bate em senhoras?

No meio disto tudo, até pode haver quem fique contente com a saída de Vítor Gaspar, e admito que tem razões para isso, mas reduzir os problemas que o país tem ao ex-ministro das finanças, é tentar branquear todo um país que advoga direitos de conquista democrática, sem nunca se referir aos deveres necessários de cumprir para atingir esses direitos. Quem tenta alterar os direitos para endireitar este burgo, tem morrido sempre a caminho, seja de um desastre de avião ou de cansaço e desgaste, como foi o caso.